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Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, o g1 conta a trajetória de Pietra Ribas, moradora de São José dos Campos, que trilhou um longo caminho desde o descobrimento da própria identidade até ver na causa uma missão de vida. Mulher transexual de São José conta como superou preconceitos para ingressar na faculdade de direito
Arquivo pessoal
Preconceito, exclusão e a dor da incompreensão. Em um país onde a expectativa de vida de uma mulher trans é de 35 anos, Pietra Ribas, de 43 anos, é símbolo de resistência. Diante da trajetória cercada por preconceitos, ela se considera uma sobrevivente e ingressou na faculdade de direito para lutar por justiça e respeito para a comunidade LGBTQIAPN+.
Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, o g1 conta a trajetória de Pietra e o caminho que ela trilhou desde o descobrimento da própria identidade até encontrar na causa uma missão de vida.
Pietra conta que desde que era criança, aos cinco anos, sentia uma diferença entre o que ela era e o que esperavam dela.
“Eu não me reconhecia naquele papel que me era atribuído como menino”, conta. À época, ainda não existiam formas para ela expressar a identidade de gênero.
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Aos 14 anos ela teve a certeza de que era uma mulher trans. Com essa descoberta, veio também a exclusão. A escola, onde ela esperava um espaço de aprendizado, tornou-se um palco de hostilidade. Foi nesse período que Pietra precisou se desfazer de um sonho, o de ser atleta de judô, e viu o caminho no esporte se fechar.
“Eu era empurrada para fora de tudo: do convívio social, da educação, do futuro. O mesmo talento que me levava aos pódios, não foi suficiente para me proteger da violência que vinha quando eu ousava ser quem eu era”, relembra.
Pietra descreve a transição como uma “travessia feita de perdas”. A mais dolorosa, foi a convivência com o pai, que não pôde aceitá-la antes de falecer. “A ausência dele ainda me acompanha, não como revolta, mas como um luto contínuo”, confessou.
Mas a aceitação foi natural ao restante da família e Pietra pôde encontrar conforto no amor da mãe e na aceitação e acolhimento natural dos irmãos. Ela conta que crescer sendo quem ela é, naquele tempo e lugar, foi um ato de resistência.
“Foi esse núcleo, pequeno e firme, que me impediu de desmoronar”, narrou Pietra, destacando a importância do apoio da família em seu processo de transição.
“Não culpo apenas as pessoas. Eu também fui vítima de uma época. De uma estrutura social que não nos permitia existir com dignidade. Mas eu permaneci e, hoje, carrego comigo todas essas memórias, não para me vitimizar, mas para honrar a menina que fui, a jovem que resistiu e a mulher que floresceu, mesmo sem permissão”, completou.
Além da família, Pietra pôde contar também com duas referências femininas que a inspiram, a Dra. Ellen Santos e a Dra. Carla Silvério Barbosa.
“São mulheres que, com sua trajetória jurídica e humana, me ensinaram que é possível ocupar espaços de poder com firmeza, elegância e propósito. O apoio dessas pessoas foi essencial para que eu acreditasse que minha presença no Direito não é apenas legítima, é necessária”, disse.
Hoje, Pietra Ribas é estudante do curso de direito em São José dos Campos. Ela narra que a entrada na universidade veio acompanhada de situações delicadas e de preconceito. Para Pietra, vivenciar a transição em um espaço tradicionalmente conservador é um desafio e requer coragem e resiliência.
Mulher transexual de São José conta como superou preconceitos para ingressar na faculdade de direito
Arquivo pessoal
No entanto, Pietra encontrou uma rede de apoio na própria instituição, colegas e professores que a acolheram, o que foi essencial para que ela pudesse focar em seu sonho, que é construir uma carreira jurídica que busque justiça e que atue na defesa dos direitos humanos.
“Estar nesse lugar representa uma ruptura silenciosa, mas profunda. Significa desestabilizar confortos históricos sem hostilidade, apenas com presença”, disse.
Apesar de ser uma sobrevivente em um país com altas estatísticas de violência contra pessoas trans, Pietra escolheu transformar os episódios de transfobia em força. A superação, para ela, está em resistir, ocupar espaços e continuar abrindo caminhos para que outras possam chegar com menos feridas e mais respeito.
“Já enfrentei episódios de transfobia tanto dentro quanto fora do ambiente acadêmico. Humilhações veladas, desconfianças institucionais e olhares que tentavam negar meu pertencimento foram, em muitos momentos, parte da caminhada. Contudo, escolhi transformar cada uma dessas experiências em força. Não romantizo a dor, mas também não permito que ela defina quem eu sou”, afirmou.
Para Pietra, o Dia do Orgulho LGBTQIA+ é mais do que uma celebração, é um lembrete da coragem de existir sem pedir licença. O orgulho, para ela, não é vaidade, mas sobrevivência com dignidade.
“Viver com autenticidade, em um país que tenta nos silenciar, já é um ato político. Todos os lugares nos pertencem. O Direito, as universidades, os tribunais, os fóruns, os escritórios, as cadeiras acadêmicas, e todas as profissões e narrativas existentes, todos esses espaços também são nossos”, defendeu.
“Nunca deixem que o mundo diminua seus sonhos. Nós não somos exceções, somos precedentes. Precisamos vestir a coragem como usamos os nossos saltos: com firmeza, altura e elegância. Sua vida é a prova viva de que a presença de corpos trans não apenas não compromete a tradição jurídica, mas a expande, a humaniza e a legitima”, finalizou.
Pietra Ribas, mulher trans estudante de direito.
Arquivo pessoal
Pietra Ribas, mulher trans estudante de direito.
Arquivo pessoal
Vanguarda Comunidade fala sobre o dia do orgulho LGBT
Fonte: G1