Desde o fim de abril, o Rio Grande do Sul sofre com enchentes causadas por fortes chuvas. Membros da Defesa Civil de Taubaté foram ao estado prestar apoio às vítimas. Voluntários retornam para Taubaté após prestarem apoio a vítimas da tragédia no RS
Depois de 15 dias de trabalho e cerca de três mil pessoas ajudadas, os agentes da Defesa Civil e voluntários de Taubaté que foram ao Rio Grande do Sul prestar apoio ao desastre que atinge o estado retornaram para a cidade do Vale do Paraíba.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Vale do Paraíba e região no WhatsApp
Os trabalhos da Defesa Civil de Taubaté se concentraram no bairro Rio Branco, na cidade de Canoas, que fica a 60 quilômetros de Porto Alegre. A região foi uma das mais afetadas pela tragédia.
“Foi algo que mudou minha vida. Nunca vi nada igual. Quando chegamos à cidade o cenário era de guerra, havia várias pilhas de entulho misturadas com lixo, carro e até animais mortos. Ver uma cidade inteira destruída é algo inacreditável”, afirma José Carlos Antunes, gestor da Defesa Civil e coordenador da operação dos taubateanos no Rio Grande do Sul.
A primeira equipe, composta por 42 pessoas, sendo 11 agentes, 9 veterinários e 22 bombeiros civis e voluntários, foi para a cidade no dia 8 de maio e retornou para Taubaté no dia 13.
As equipes de Taubaté resgataram cerca de 3 mil pessoas e 3 mil animais
Reprodução/Defesa Civil
Outra equipe, com quatro agentes da Defesa Civil e dois voluntários, foram no dia 13 e retornaram na última quinta-feira (23). Nove agentes, que foram no dia 8 de maio, também permaneceram até o dia 23.
Usando barcos, os agentes de Taubaté ficaram responsáveis pela busca e resgate de pessoas que estavam ilhadas ou desaparecidas no bairro do Rio Branco.
Leia mais notícias do Vale do Paraíba e região
De acordo com Antunes, a estimativa é que cerca de três mil pessoas e três mil animais tenham sido ajudados pelas equipes de Taubaté. Somente em uma ocorrência, mais de 40 animais foram resgatados pelos agentes.
“A missão como um todo me marcou muito, mas dois atendimentos me marcaram positivamente. O primeiro deles foi ter que resgatar a receita médica de um menino autista. Ele morava num apartamento em uma área comandada por criminosos, então tivemos que montar todo um plano para chegar até o apartamento, pegar a receita e voltar. Era algo fundamental para aquele menino”, conta Antunes.
Voluntários retornam para Taubaté após prestarem apoio a vítimas da tragédia no RS
O segundo atendimento que marcou o gestor também foi uma lição de vida para ele.
“Fomos fazer o resgate de um idoso e ele estava preocupado com uma caixinha de música. Ele não queria sair de casa até achar e ficamos com ele até encontrarmos. A caixinha seria dada de presente para o filho. Nessas horas a gente lembra que até as pequenas coisas podem ter uma importância fundamental na vida da gente. Nessa hora eu me emocionei.”
O idoso foi resgatado e conseguiu presentear o filho com a caixa de música.
Resgate aos animais
Além do resgate de pessoas, as equipes de Taubaté também ajudaram a resgatar mais de três mil animais.
“A gente saia de barco procurando pelos animais. Alguns a gente já sabia onde poderiam estar, mas muitos a gente encontrava em cima das casas e tentava resgatar. Alguns estavam muitos bravos, então não conseguíamos retirar de lá. Nesses casos a gente deixava uma boa quantia de ração e tentava voltar para resgatar depois”, conta a veterinária Natália Pena.
Meg estava no abrigo onde Natália atuou como veterinária
Arquivo Pessoal
Entre os três mil animais resgatados, um deles retornou para Taubaté junto com a equipe de veterinários. Meg, uma vira-lata, foi resgatada pela veterinária Natália.
“Na primeira noite que eu cheguei eu fui escalada para trabalhar como veterinária em um dos galpões. Fui fazer a avaliação geral dos animais no meu turno e eu me apaixonei por ela. Foi paixão à primeira vista, então ali já fiquei com a ideia de trazê-la”, relembra Natália, que pretende voltar ao RS.
Por conta da tragédia, muitos tutores se separaram dos animais. Foi o caso de Meg. Na última sexta-feira (17), os tutores da cadela foram até o abrigo procurar por ela, mas souberam que a cachorrinha veio para Taubaté.
Natália e os tutores estão conversando diariamente. Por enquanto Meg ficará em Taubaté, já que os tutores perderam a casa na tragédia. Quando conseguirem se estabilizar, Meg voltará para Canoas.
Meg vai voltar para Canoas assim que os tutores se reestabelecerem
Arquivo Pessoal
Durante toda a missão, um dia em específico marcou a veterinária.
“Eu tenho um bebê de um ano e um mês, e estar o Dia das Mães sem ele foi difícil. E, por coincidência, no Dia das Mães eu fiquei irresponsável pela maternidade no setor veterinário. Foi um dia especial, porque eu estava longe do meu filho, num lugar que está devastado. Eu entendi que estava ali por um bem maior e aqueles animais também precisavam ser acolhidos naquele momento”
Além da Defesa Civil, militares do Comando de Aviação do Exército (Cavex) de Taubaté também estão atuando nas ocorrências relacionadas a tragédia. Atualmente, nove aeronaves e cerca de 80 militares estão no RS. O grupo tem como foco ações de busca e salvamento. Não há previsão de retorno para Taubaté.
Tragédia
Desde o final de abril o Rio Grande do Sul sofre com enchentes causadas por fortes chuvas em grande parte do estado.
O mês de maio foi o mais chuvoso na em Porto Alegre, capital do estado, em mais de um século, aponta um levantamento da Climatempo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) obtidos desde 1916.
O número de mortes em razão dos temporais e cheias que atingem o Rio Grande do Sul já chegou a mais de 160 desde 29 de abril.
Imagem aérea mostra alagamento em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre
Carlos Macedo/AP
Fonte: G1