Com isso, ele não pode mais ser punido pelo caso. Extinção acontece após o jogador, ex-Palmeiras e Bragantino, fazer um acordo com o Ministério Público e pagar R$ 1,7 milhão. Entenda o acordo jurídico usado para encerrar ação contra jogador Renan por morte de motociclista
Lucas Rangel/TV Vanguarda
A Justiça extinguiu a possibilidade de punição ao jogador de futebol Renan, que causou um acidente de trânsito com morte em Bragança Paulista (SP), em 2022.
Para encerrar a ação, o zagueiro pagou R$ 1,7 milhão em um ‘acordo de não persecução penal (ANPP)’ firmado com o Ministério Público de São Paulo. O valor será usado para ampliar leitos de hemodiálise na Santa Casa de Bragança Paulista. Em troca, o jogador não é denunciado e punido pelo acidente.
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Após o cumprimento do acordo, a Justiça decretou extinta a punibilidade a Renan, que não poderá mais ser denunciado e condenado pelo caso.
A decisão da juíza Nicole de Almeida Campos Leite Colombini, da ª Vara Criminal de Bragança Paulista, foi publicada no Diário da Justiça Eletrônico do Tribunal de Justiça de São Paulo de segunda-feira (3).
Após acidente, ex-jogador do Braga faz acordo com o MP
O acidente aconteceu no dia 22 de julho de 2022, quando o então jogador do Bragantino atropelou e matou o motociclista Eliezer Pena, que tinha 38 anos e deixou a esposa e duas filhas.
Sem CNH definitiva, Renan contou na delegacia ter ingerido bebida alcoólica horas antes do acidente e chegou a ficar um dia preso. A embriaguez, no entanto, não foi comprovada no inquérito – relembre o caso abaixo.
O g1 acionou os advogados de defesa de Renan, mas não teve retorno até a última atualização da reportagem.
Renan, ex-jogador do Red Bull Bragantino
Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Entenda o que é o ANPP
O acordo de não persecução penal está previsto no Código de Processo Penal desde a sanção da Lei Anticrime, que entrou em vigor em todo o Brasil no dia 23 de janeiro de 2020.
De acordo com a lei, o Ministério Público pode propor um acordo, antes da denúncia, se o investigado tiver confessado a prática de um crime sem violência ou grave ameaça. A infração penal deve ter pena mínima menor que quatro anos de prisão.
➡️ No atropelamento provocado pelo zagueiro Renan, o Ministério Público de SP entendeu que o caso se enquadra na prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor, que está previsto no Código de Trânsito Brasileiro e cuja pena é de dois a quatro anos de prisão.
Os ANPPs, como são conhecidos, preveem que acusados não sejam julgados, não correndo o risco de serem presos, se confessarem a prática do delito ainda durante a fase inicial de investigação policial. O acordo só vale caso os crimes tenham sido cometidos sem violência.
Na prática, o acordo de não persecução penal faz com que a punição ao investigado seja extinta em troca de uma reparação social.
Segundo o advogado penal Frediano Teodoro, esse tipo de acordo ainda mantém a condição de réu primário no caso de investigados que nunca foram condenados por nenhum crime.
“O acordo impede que o investigado seja processado criminalmente, desde que haja uma colaboração por parte dele, e extingue a possibilidade de pena, já que, sem processo criminal, a pessoa não pode ser punida. Em casos de réu primário, o acordo inclusive mantém essa condição, pois a pessoa não chega a ser condenada”, disse.
Entenda o acordo jurídico usado para encerrar ação contra jogador Renan por morte de motociclista
Staff Images / Conmebol
No caso de Renan, ele pagou mais de R$ 1,7 milhão, valor que será usado para a compra de 20 leitos de hemodiálise para atendimento do SUS na Santa Casa de Misericórdia de Bragança Paulista.
Regras para celebração de um ANPP:
O investigado tem que confessar o crime
Tem que ser réu primário
Crimes de pena mínima inferior a 4 anos
Crimes sem violência ou grave ameaça
Não pode haver elementos que indiquem ser criminoso habitual
Não pode para violência doméstica, familiar ou contra a mulher
O acusado deve seguir regras: renunciar ao proveito do crime, prestar serviços à comunidade, devolver o bem à vítima, pagar multa ou ajudar entidade social
O MP não oferece denúncia e o inquérito é arquivado, sem abertura de processo
Os Tribunais de Justiça podem homologar ou não os acordos de não persecução penal.
Após acidente, ex-jogador do Braga faz acordo com o MP
Leitos de hemodiálise
O acordo entre o jogador de futebol Renan Victor da Silva e Ministério Público foi oficializado pela promotoria no dia 21 de maio. A medida prevê que o investigado doe R$ 1.757.144, que serão usados para a compra de 20 leitos de hemodiálise para atendimento do SUS na Santa Casa de Misericórdia de Bragança Paulista.
No documento ao qual o g1 teve acesso, o promotor responsável pelo caso, Rogério José Filócomo Júnior, ressalta que a cidade vem enfrentando problemas para atender a demanda de pacientes que precisam de hemodiálise.
De acordo com ele, a compra de 20 leitos vai melhorar o serviço, que conseguirá atender até 200 pacientes por mês.
Na celebração do acordo, o Ministério Público destaca ainda que Renan é réu primário e cita que ele confessou formalmente o crime, além de ter destinado o valor da fiança à família do homem que foi morto e feito acordo para pagar indenização às filhas dele.
Além disso, os advogados da família de Eliezer Pena concordaram com o acordo de não persecução penal, de acordo com o MP.
Zagueiro do Bragantino se envolve em acidente de trânsito
Relembre o caso
Renan se envolveu em um acidente de trânsito que terminou com vítima fatal em Bragança Paulista e foi preso pela polícia no dia 22 de agosto de 2022. Ele foi indiciado por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, com qualificadoras por não estar habilitado e dirigir sob a influência de álcool.
O jogador seguia pela rodovia Alkindar Monteiro Junqueira no início da manhã, quando se envolveu em um acidente com uma moto. O motociclista teve ferimentos graves, não resistiu e morreu no local. A vítima foi Eliezer Pena, que tinha 38 anos e deixou a esposa e duas filhas.
Eliezer Pena morreu atropelado por carro dirigido por jogador Renan, do Bragantino
Reprodução
Após o acidente, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) esteve no local e constatou no atendimento que o jogador tinha odor de álcool. Além disso, uma garrafa de bebida foi encontrada no carro.
Os agentes pediram que ele fizesse o teste do bafômetro, mas Renan se recusou e foi levado à polícia. Mais tarde, a delegada Aline Alessandra Marques Faria Ferreira informou que ele confessou que havia bebido gin.
“Verificamos que ele afirmou que estava em uma festa e tinha ingerido bebida alcoólica. Ele disse que ingeriu gin e que acabou cochilando, e por isso perdeu a direção do veículo”, revelou Aline na época.
Vítima estava em uma motocicleta
Lucas Rangel/TV Vanguarda
Além disso, Renan não tinha habilitação. Segundo a PRE, ele tinha uma permissão para dirigir, que não é o documento oficial. No período em que se está apenas com a permissão, não é permitido cometer infrações, o que aconteceu com o jogador.
Portanto, o jovem (na época com 20 anos) foi preso em flagrante, encaminhado à cadeia de Piracaia e passou audiência de custódia no dia seguinte, 23 de agosto.
Jogador Renan, do Bragantino, foi preso e vai responder por homicídio culposo
Lucas Rangel/ TV Vanguarda
Na ocasião, a Justiça concedeu liberdade provisória e ele foi solto. Responsável pela audiência, o juiz Fábio Camargo determinou que o atleta teria que pagar uma fiança no valor de 200 salários mínimos, equivalente a R$ 242 mil na época, além da obrigação de comparecer em todos os atos do processo. Ele também foi proibido de frequentar bares e casas de shows.
Em agosto, Renan firmou um acordo para indenizar a família da vítima e foi autorizado pela Justiça a deixar o Brasil para retomar sua carreira como jogador. Uma semana depois, ele foi anunciado pelo Shabab Al-Ahli Dubai, do Emirados Árabes.
A decisão da juíza Nicole de Almeida Campos Leite Colombini atendeu a um pedido da defesa dele, para relaxamento das medidas restritivas impostas ao zagueiro. O Ministério Público e a defesa da família da vítima foram favoráveis ao pedido.
Renan zagueiro
Divulgação
Na decisão, a juíza levou em consideração que o jovem colaborou com as investigações, pagou fiança e fez acordo para indenizar a família de Eliezer Pena. Os valores não foram revelados.
Além disso, Nicole Colombini também citou a dificuldade do jogador se inserir novamente no mercado de trabalho. A defesa de Renan alegou que ele teve contratos com Bragantino e Palmeiras rescindidos diante das circunstâncias.
Renan Victor, zagueiro do Shabab Al-Ahli Dubai, comemora título nos Emirados Árabes
Divulgação/Shabab Al-Ahli Dubai
Carreira nos Emirados Árabes
Depois do acidente, o zagueiro Renan, que pertenciam ao Palmeiras e estava emprestado ao Red Bull Bragantino, teve o contrato rescindido com os dois clubes.
Praticamente um mês depois do caso, o zagueiro foi autorizado pela Justiça a deixar o país para atuar no exterior. O Ministério Público e a defesa da família da vítima concordaram com a decisão.
Liberado, Renan acertou com Shabab Al-Ahli Dubai, dos Emirados Árabes, onde atua até hoje. O jogador foi campeão da liga nacional da temporada passada e segue sendo um dos atletas mais escalados.
Fonte: G1